O presente livro defende que, na fase da sua maturidade, a filosofia de Nietzsche pretende lutar contra o niilismo e propor uma nova experiência do enigma do mundo resultante da fusão do espírito crítico da ciência com o espírito afirmativo da arte. Sem nunca abandonar o espírito crítico da ciência, não pode deixar de incluir a paradoxal verdade do niilismo mais extremo: a verdade de que não há verdade. Mas Nietzsche luta contra o niilismo e contra o desespero e a desorientação que a ausência de uma verdade metafísica provoca. Ao abandonar a valorização incondicional da verdade transcendente em favor da valorização da aparência enquanto imanência, a filosofia de Nietzsche persiste na mais radical «paixão pelo conhecimento», fazer da vida um meio para o conhecimento, mas, ao mesmo tempo, seguir a arte na afirmação da aparência enquanto aparência, afirmar que não há verdade e que a realidade da imanência é apenas a realidade insubstancial e flutuante das nossas interpretações, a realidade revisível e inacabada da «aparência». Nietzsche integra a descoberta da ausência da verdade numa experiência de amor ao mundo e afirmação dionisíaca da imanência. É isto que, em última análise, está implicado quer na sua concepção da experiência do enigma do mundo como um maravilhamento com a incerteza e a ambiguidade da existência, quer na sua concepção do sentido do trágico como «garantia da união e da continuação do humano em geral».
João Constâncio: Arte e Niilismo. Nietzsche e o Enigma do Mundo
Tinta da China, 2014, 392 p.
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 392
Editor: Tinta da China
ISBN: 9789896711665
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